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Pandemia, economia e insatisfação social na América Latina e Caribe

Atualizado: 23 de nov. de 2023

América Latina e Caribe respondem por 8,4% da população mundial, 20% do

total de casos confirmados de Covid-19 e computa 1,5 milhão de vidas perdidas, o que

corresponde a 30% do total de mortes ocorridas no mundo. Segundo o jornal inglês Financial

Times, os cinco países do mundo em que a média histórica de mortes foi amplamente superada

são da região: Peru, Equador, Nicarágua, Bolívia e México. O Brasil aparece em 7o lugar.

Condições propaladas pela mídia, estudadas por acadêmicos e sentidas na pele

por milhões de pessoas, o desemprego, as desigualdades sociais, a ausência de condições de

vida compatíveis com os direitos humanos e a falta de equidade no acesso a serviços de saúde

foram agudizadas pela crise sanitária em que ainda vivemos e que não tem data para acabar.

Diferenças estruturais entre os diversos países e as debilidades do modelo de desenvolvimento

da América Latina e Caribe levaram a uma queda de 6,8 % no PIB, conforme estudos da

CEPAL, caracterizando a maior retração econômica da região em 120 anos. Estima-se que, no

final de 2020, cerca de 231 milhões de pessoas viviam na pobreza na América Latina, fato que

não se verificava desde 2006.


Trinta e três países da América Latina e Caribe adotaram medidas de proteção

social não contributiva, seja pela transferência de renda em espécie, seja pela garantia de

fornecimento de serviços básicos. Em termos de medidas de proteção social contributiva, 8

países latino-americanos e 3 caribenhos introduziram alterações no seguro-desemprego:

flexibilização dos requisitos de elegibilidade, aumento do período de pagamento ou do seu

valor, além de programas adicionais. Impactos foram sentidos também nos sistemas de

aposentadorias e pensões de 11 países da região, com uma queda de 5,3% na arrecadação,

quando comparada com o quarto trimestre de 2020 e 2019.


As desigualdades internas e em relação aos países ditos de economia avançada

foi potencializada neste momento de crise sanitária. Generosos programas de estímulo à

economia e acesso mais rápido a vacinas foram definitivos para que os países ricos tenham em

mira a recuperação de suas economias ainda neste ano.


De maneira geral, falta às elites e aos governantes da América Latina e Caribe

a percepção da importância da saúde das pessoas para a saúde da economia. A CEPAL

avaliou o comportamento dos países da região em todas as etapas de implementação de

políticas de saúde pública essenciais ao enfrentamento da pandemia de Covid-19: avaliação,

desenvolvimento de políticas, alocação de recursos e acesso da população. O Brasil foi o único


país a apresentar problemas em todas as etapas, o que não surpreende, tendo em vista a

caótica gestão da pandemia levada a cabo pelo governo de Jair Bolsonaro, com a demora em

comprar vacinas, atitudes para desacreditar medidas de prevenção, propagação de

medicamentos ineficazes contra a doença e constante divulgação de notícias falsas.


A pandemia trouxe prejuízo ao atendimento em saúde de maneira geral, com

interrupção de atividades de rotina, do controle de doenças crônicas não transmissíveis, das

ações de prevenção e queda na cobertura vacinal. Mas, sobretudo, desafiou a estrutura e

organização dos serviços de saúde. O Brasil tem o Sistema Único de Saúde – SUS, fundado

na universalidade, integralidade e equidade, e ameaças a esse sistema foram temporariamente

abandonadas em face de sua importância no momento de pandemia. Costa Rica também

apresenta vantagem em relação ao conjunto da região, por contar com um sistema de saúde

baseado em seguro público universal, solidário e obrigatório, que abrange 70% da população.

Uma consequência da pandemia, ainda sem resposta, é o número de “órfãos da

covid”. De um dia para outro famílias viram o número de membros aumentar, sem habitação

adequada e correspondente amparo do Estado; famílias perderam seus provedores e buscam

se reorganizar num cenário completamente adverso. São desafios que se somam aos já

existentes, exigindo medidas efetivas por parte do Estado.


De maneira geral, falta às elites e aos governantes a percepção da importância

da saúde das pessoas para a saúde da economia. A CEPAL avaliou o comportamento dos

países da região em todas as etapas de implementação de políticas de saúde pública

essenciais ao enfrentamento da pandemia de Covid-19: avaliação, desenvolvimento de

políticas, alocação de recursos e acesso da população. O Brasil foi o único país a apresentar

problemas em todas as etapas, o que não surpreende, tendo em vista a caótica gestão da

pandemia levada a cabo pelo governo de Jair Bolsonaro com a demora em comprar vacinas,

atitudes voltadas para desacreditar medidas de prevenção, propagação de medicamentos

ineficazes contra a doença e divulgação de diversas notícias falsas.


A falta de equidade no acesso aos serviços de saúde e condições de vida

incompatíveis com os direitos humanos interferem drasticamente na recuperação econômica.

Conforme relatório da OCDE, baixa produtividade, instituições fracas e vulnerabilidade social

obstaculizam o desenvolvimento e alimentam o descontentamento da sociedade. Uma

realidade que coloca em risco a democracia. Especificamente na América do Sul verificam-se

diversas tensões sociais e políticas surgidas nos últimos anos e a pandemia tem alimentado o

repúdio popular ao comportamento das elites e dos governantes em face de sua incapacidade

no enfrentamento da crise sanitária, com queda significativa na sua aprovação.


Ao longo da história, epidemias trouxeram transformações sociais, culturais, sanitárias e políticas e esta pandemia, ao que parece, não será exceção.


Material utilizado

OCDE: pandemia provoca recuo em avanços recentes e exacerba desigualdades globais - Economia - Estado de

Minas

Latinobarômetro reflete o descontentamento social pela pandemia | Internacional | EL PAÍS Brasil (elpais.com)

Informe COVID-19: La prolongación de la crisis sanitaria y su impacto en la salud, la economía y el desarrollo

social (cepal.org)

Crecientes asimetrías globales entre países desarrollados y en desarrollo dificultan una recuperación pos

pandemia con mayor igualdad y sostenibilidad: CEPAL | Noticias | Comisión Económica para América Latina y el

Caribe

S2000182_es.pdf (cepal.org)

Especialistas de quatro países defendem sistemas de saúde pública | Agência Brasil (ebc.com.br)





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