América Latina e Caribe respondem por 8,4% da população mundial, 20% do
total de casos confirmados de Covid-19 e computa 1,5 milhão de vidas perdidas, o que
corresponde a 30% do total de mortes ocorridas no mundo. Segundo o jornal inglês Financial
Times, os cinco países do mundo em que a média histórica de mortes foi amplamente superada
são da região: Peru, Equador, Nicarágua, Bolívia e México. O Brasil aparece em 7o lugar.
Condições propaladas pela mídia, estudadas por acadêmicos e sentidas na pele
por milhões de pessoas, o desemprego, as desigualdades sociais, a ausência de condições de
vida compatíveis com os direitos humanos e a falta de equidade no acesso a serviços de saúde
foram agudizadas pela crise sanitária em que ainda vivemos e que não tem data para acabar.
Diferenças estruturais entre os diversos países e as debilidades do modelo de desenvolvimento
da América Latina e Caribe levaram a uma queda de 6,8 % no PIB, conforme estudos da
CEPAL, caracterizando a maior retração econômica da região em 120 anos. Estima-se que, no
final de 2020, cerca de 231 milhões de pessoas viviam na pobreza na América Latina, fato que
não se verificava desde 2006.
Trinta e três países da América Latina e Caribe adotaram medidas de proteção
social não contributiva, seja pela transferência de renda em espécie, seja pela garantia de
fornecimento de serviços básicos. Em termos de medidas de proteção social contributiva, 8
países latino-americanos e 3 caribenhos introduziram alterações no seguro-desemprego:
flexibilização dos requisitos de elegibilidade, aumento do período de pagamento ou do seu
valor, além de programas adicionais. Impactos foram sentidos também nos sistemas de
aposentadorias e pensões de 11 países da região, com uma queda de 5,3% na arrecadação,
quando comparada com o quarto trimestre de 2020 e 2019.
As desigualdades internas e em relação aos países ditos de economia avançada
foi potencializada neste momento de crise sanitária. Generosos programas de estímulo à
economia e acesso mais rápido a vacinas foram definitivos para que os países ricos tenham em
mira a recuperação de suas economias ainda neste ano.
De maneira geral, falta às elites e aos governantes da América Latina e Caribe
a percepção da importância da saúde das pessoas para a saúde da economia. A CEPAL
avaliou o comportamento dos países da região em todas as etapas de implementação de
políticas de saúde pública essenciais ao enfrentamento da pandemia de Covid-19: avaliação,
desenvolvimento de políticas, alocação de recursos e acesso da população. O Brasil foi o único
país a apresentar problemas em todas as etapas, o que não surpreende, tendo em vista a
caótica gestão da pandemia levada a cabo pelo governo de Jair Bolsonaro, com a demora em
comprar vacinas, atitudes para desacreditar medidas de prevenção, propagação de
medicamentos ineficazes contra a doença e constante divulgação de notícias falsas.
A pandemia trouxe prejuízo ao atendimento em saúde de maneira geral, com
interrupção de atividades de rotina, do controle de doenças crônicas não transmissíveis, das
ações de prevenção e queda na cobertura vacinal. Mas, sobretudo, desafiou a estrutura e
organização dos serviços de saúde. O Brasil tem o Sistema Único de Saúde – SUS, fundado
na universalidade, integralidade e equidade, e ameaças a esse sistema foram temporariamente
abandonadas em face de sua importância no momento de pandemia. Costa Rica também
apresenta vantagem em relação ao conjunto da região, por contar com um sistema de saúde
baseado em seguro público universal, solidário e obrigatório, que abrange 70% da população.
Uma consequência da pandemia, ainda sem resposta, é o número de “órfãos da
covid”. De um dia para outro famílias viram o número de membros aumentar, sem habitação
adequada e correspondente amparo do Estado; famílias perderam seus provedores e buscam
se reorganizar num cenário completamente adverso. São desafios que se somam aos já
existentes, exigindo medidas efetivas por parte do Estado.
De maneira geral, falta às elites e aos governantes a percepção da importância
da saúde das pessoas para a saúde da economia. A CEPAL avaliou o comportamento dos
países da região em todas as etapas de implementação de políticas de saúde pública
essenciais ao enfrentamento da pandemia de Covid-19: avaliação, desenvolvimento de
políticas, alocação de recursos e acesso da população. O Brasil foi o único país a apresentar
problemas em todas as etapas, o que não surpreende, tendo em vista a caótica gestão da
pandemia levada a cabo pelo governo de Jair Bolsonaro com a demora em comprar vacinas,
atitudes voltadas para desacreditar medidas de prevenção, propagação de medicamentos
ineficazes contra a doença e divulgação de diversas notícias falsas.
A falta de equidade no acesso aos serviços de saúde e condições de vida
incompatíveis com os direitos humanos interferem drasticamente na recuperação econômica.
Conforme relatório da OCDE, baixa produtividade, instituições fracas e vulnerabilidade social
obstaculizam o desenvolvimento e alimentam o descontentamento da sociedade. Uma
realidade que coloca em risco a democracia. Especificamente na América do Sul verificam-se
diversas tensões sociais e políticas surgidas nos últimos anos e a pandemia tem alimentado o
repúdio popular ao comportamento das elites e dos governantes em face de sua incapacidade
no enfrentamento da crise sanitária, com queda significativa na sua aprovação.
Ao longo da história, epidemias trouxeram transformações sociais, culturais, sanitárias e políticas e esta pandemia, ao que parece, não será exceção.
Material utilizado
OCDE: pandemia provoca recuo em avanços recentes e exacerba desigualdades globais - Economia - Estado de
Minas
Latinobarômetro reflete o descontentamento social pela pandemia | Internacional | EL PAÍS Brasil (elpais.com)
Informe COVID-19: La prolongación de la crisis sanitaria y su impacto en la salud, la economía y el desarrollo
social (cepal.org)
Crecientes asimetrías globales entre países desarrollados y en desarrollo dificultan una recuperación pos
pandemia con mayor igualdad y sostenibilidad: CEPAL | Noticias | Comisión Económica para América Latina y el
Caribe
S2000182_es.pdf (cepal.org)
Especialistas de quatro países defendem sistemas de saúde pública | Agência Brasil (ebc.com.br)
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