Foto: dabldy/Wikimedia Commons. Licença: CC BY-SA 3.0
O T20 é um dos grupos de engajamento do G20, fórum internacional que reúne as vinte maiores economias do mundo e cuja cúpula este ano acontece no Rio de Janeiro. A função dos grupos de engajamento é formular propostas para os líderes dos países membros do fórum. Paralelo a isso,no meio do ano acontece o T20 Midterm Conference, no qual os principais think tanks e centros de pesquisa internacionais dos países integrantes do grupo reúnem suas recomendações no comuniqué que será entregue durante a cúpula de fato. A conferência teve como foco a reorganização do sistema internacional, abrangendo a governança, as finanças e políticas ambientais.
Ao longo dos painéis da conferência de 2024, que no total foram seis, inúmeros temas foram abordados, porém podemos ver tendências gerais que podem impactar, ou já estão impactando, a comunidade internacional. O balanço geral do mundo contemporâneo tem motivos de preocupação. A desigualdade entre países de baixa renda e os de renda elevada vai aumentar até 2030 devido à pandemia de COVID-19, mudanças climáticas se juntam às perspectivas econômicas sombrias. Apesar de países de renda média, como o Brasil, terem mais ou menos regressado aos padrões anteriores à pandemia, muitas regiões do mundo ainda não saíram dessa armadilha.
Entre as tendências específicas está a discussão em torno das mudanças climáticas e como a luta contra essa grave crise não levará a nada se não for pautada junto a um panorama justo e inclusivo para a transição energética, que crie empregos e promova a prosperidade. Contudo, ao falar de inclusão, precisamos abordar a transformação digital, outro tema perene tratado ao longo da reunião. No que tange a digitalidade, a inevitável presença das IAs não poderia ser ignorada, porém não enquanto ameaça mas, sim, como uma ferramenta de auxílio às populações mais vulneráveis.
O virtual tem promovido mudanças palpáveis no Sul Global, como o pix no Brasil ou o fato de mais de 90% de indianos hoje terem conta em bancos virtuais, dentre eles 60% mulheres, fator incontornável para a integração digital. Contudo, isso não pode vir desacompanhado de uma reforma da arquitetura financeira mundial, que atualmente está despreparada para lidar com questões como mudanças climáticas, desigualdade racial e de gênero e riscos geopolíticos. Urge a implementação de novas instituições capazes de concretizar a transição para uma economia de baixo carbono e a reforma de existentes como a OMC, que está paralisada.
A taxação internacional de grandes riquezas foi uma proposta constante para financiar a transição, primariamente elaborada pela economista francesa Esther Duflo, que também propôs a elevação dos impostos às grandes multinacionais de 15% para 21%. A justificativa por trás dessas taxações é a de que o dinheiro internacional não pertence somente às multinacionais, mas ao planeta inteiro, já que indivíduos de vários Estados participam nesse processo. Contudo, estamos em meio a uma crise da governança global e do multilateralismo gerada pela ascensão de grupos de extrema direita que fomentam a desconfiança em relação a esses instrumentos. Entretanto, é por essas vias que Estados sem excedente de poder, como os do Sul Global, são capazes de terem suas vozes minimamente ouvidas no âmbito internacional, já que isolados ainda não somos páreos ao protecionismo e diferencial de poder dos Estados do Norte. As reformas representativas dentro de organizações como a OMC e o Conselho de Segurança da ONU são passos primordiais para a concretização de todas as metas discutidas no T20.
A presidência brasileira do G20 em novembro deste ano é inovadora no sentido que apresentará as temáticas como interligadas. O Brasil é um dos poucos países do mundo com um plano integrado para um governo verde, digital e inclusivo, e o communiqué que será apresentado aos chefes de Estado da cúpula reflete essa aspiração. Afinal, a função do G20 é justamente um fórum mais inclusivo que não seja dominado pelos interesses dos países desenvolvidos. A visão do G20, sobretudo a desta presidência brasileira, é a de que a humanidade não avançará enquanto todos nós não avançarmos juntos.
Anghel Valença é pesquisador da ObservActiva
Bacharel em Relações Internacionais pela Universidade Cândido Mendes.
Todas curadorias são revisadas pelas coordenadoras Isadora Borba e Rafaela De Negri
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