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Foto do escritorLuana dos Santos

O sofrimento psicológico no sistema capitalista - O Setembro Amarelo precisa falar sobre o sistema da super exploração


Homem branco com feição preocupada está com a cabeça deitada sobre a mesa onde há uma pilha de papéis e um notebook aberto onde se lê a palavra "BURNOUT" em letras pretas sobre fundo branco.

O capitalismo é baseado na exploração da força de trabalho do proletariado com o objetivo de acumular mais-valia e manter a dominação da classe burguesa sobre a classe trabalhadora. Nesse sentido, um dos diversos efeitos negativos do sistema capitalista é o sofrimento psicológico dos trabalhadores, incumbidos de um trabalho mal remunerado, jornadas de trabalho exaustivas e assédios dos mais diversos tipos. 


O setembro amarelo é a campanha mais famosa do Brasil sobre prevenção do suicídio, com a sua primeira edição ocorrendo em 2015, essa campanha está prestes a completar 10 anos mas ainda não reconheceu as condições do capitalismo como uma das causas de suicídio, especialmente quando avaliada dentro da Determinação Social da Saúde (DSS). Uma das mais conhecidas manifestações do sofrimento psicológico é a síndrome de burnout, também conhecida como síndrome do esgotamento profissional, condição caracterizada pelo esgotamento físico e mental causado pela jornada exaustiva de trabalho. Lamentavelmente, o Brasil é o segundo país com mais casos de síndrome de burnout, com 30% dos trabalhadores acometidos pela doença, em primeiro lugar está o Japão com 70% dos trabalhadores nessa situação. A síndrome de burnout pode levar o paciente a cometer o suicídio, principalmente se a doença não for tratada adequadamente. Por isso, urge que a campanha do setembro amarelo aborde essa perspectiva do impasse, bem como apontar o sistema capitalista como o principal culpado dos casos de suicídio e dos problemas psicológicos. 


Além disso, as grandes mídias só dão visibilidade para os casos no mês de setembro, isso é insuficiente pois os suicídios ocorrem em todos os meses do ano e a população precisa ter acesso a informações que vão além de setembro. Ademais, o suicídio ainda é um assunto com tabus na sociedade, visto como um pecado abominável e como a manifestação da “falta de Deus”, estigmatização que desencoraja as vítimas a buscarem ajuda. Dessa forma, é preciso que a conscientização acerca da problemática seja realizada de forma ininterrupta e profundamente baseada na compreensão social do sofrimento psicológico como consequência de um sistema de extrativismo - das pessoas e do planeta


Visto que os transtornos mentais acometem mais a classe empobrecida, é preciso que haja investimento na saúde pública para fortalecer o sistema único de saúde (SUS) para que dessa forma, a população mais vulnerável tenha acesso a ajuda psicológica rápida, eficiente e de qualidade.  

                     

Quanto aos hábitos diários, o Ministério da Saúde recomenda o equilíbrio entre vida pessoal e trabalho. Ou seja, balancear a rotina profissional com momentos de lazer e descanso, acrescentando a prática de atividades físicas, adoção de uma alimentação saudável e evitar o consumo de bebidas alcoólicas e tabaco. (“Brasil é o segundo país do mundo com mais casos de burnout”, Terra.)


No entanto, balancear a vida pessoal e a profissional é uma tarefa quase impossível no sistema capitalista, em especial para quem conta com o salário do mês como meio de sobre-vivência essencial. Isso afeta principalmente os trabalhadores que cumprem a escala 6x1, na qual o indivíduo trabalha 6 dias por semana e tem direito a apenas uma folga. Assim, a classe trabalhadora perde um dia de descanso para enriquecer os donos dos meios de produção - a antiga burguesia, agora espalhada em polos de exploração transdisciplinar - à custa da sua saúde mental. O debate acerca das problemáticas da escala 6x1 vem ganhando força nos últimos meses após a deputada Erika Hilton (PSOL) em parceria com o VAT (Vida além do trabalho) propuseram o fim desse modelo de trabalho. As principais reivindicações dos trabalhadores contrários à escala 6x1 estão voltadas a possibilidade de conciliar a vida profissional com a pessoal, aos cuidados com a saúde e dispor de tempo para investir em capacitação profissional e assim, aumentar a produtividade no ambiente de trabalho. 


A ideologia dominante, o neoliberalismo e seus símbolos, tem um papel crucial na estigmatização dos trabalhadores que desenvolvem doenças psicológicas ligadas ao ambiente de trabalho. Nesse sentido, os trabalhadores são individualizados e culpabilizados por um impasse que é estrutural do modo de produção capitalista. Essa individualidade exacerbada é característica do neoliberalismo, principalmente no que tange a incentivação da competição entre os funcionários que almejam uma suposta ascensão profissional - a ideia da meritocracia. Além disso, as ideias difundidas nas empresas como “vestir a camisa da empresa” e “espírito de dono” pressionam ainda mais os funcionários a serem mais eficientes e produtivos, mesmo que para isso seja necessário a abdicação da saúde mental.  


Karl Marx é o autor mais conhecido nos estudos do modo de produção capitalista. Sua obra do século dezenove segue assustadoramente atual e trata sobre a natureza predatória do sistema de devoção ao capital, de como a luta de classes é a luta da história, dos explorados e dos exploradores e de como a subjugação do trabalhador é o primeiro passo da dominação e super extrativismo dos corpos. O autor prega a necessidade de uma revolução socialista - o socialismo seria apenas um estágio, o objetivo final é alcançar o comunismo, regime de coletivo - comandada pela classe trabalhadora, os proletários. Nessa perspectiva, ocorreria a socialização dos meios de produção e a extinção da burguesia como classe - já que essa existe a partir da superexploração, Como modo de auto preservação de si e do sistema, nota-se como a classe dominante utiliza meios de comunicação de massa para manter sua soberania e disseminar ideias falsas sobre o comunismo, assim, o modelo econômico de Marx é amplamente rejeitado pelos proletários, e sobre o capitalismo e sua falsa justiça de “esforço = recompensa”.  Dessa forma, o capitalismo persiste e explora mental e fisicamente sob o pretexto que a alternativa a isso - o comunismo - pioraria as condições dos trabalhadores. 


Ademais, a reforma da previdência em vigor desde 2019 é uma das medidas mais conhecidas que pretende piorar as condições da classe trabalhadora. Essa reforma dificulta a concessão de aposentadorias por meio do aumento da idade mínima para ter direito ao benefício e aumento do tempo de contribuição, ou seja, os trabalhadores vão passar mais anos sendo expostos a problemas psicológicos advindos do ambiente laboral. 


      Os problemas de saúde mental são uma realidade na vida de milhões de trabalhadores ao redor do mundo e devem ser tratados com a devida seriedade, livre de estigmas e culpabilização do indivíduo, numa análise crítica e sistêmica capaz de fazer compreender que saúde mental e capitalismo NÃO combinam.     


Luana dos Santos Braga é estudante de Ciências Sociais na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e curadora do FSMSSS.


Todas curadorias são revisadas pelas coordenadoras Isadora Borba e Rafaela De Negri


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