ÁGUA QUE AZULA O PLANETA
Atualizado: 7 de jun.
“A Terra é azul”, informou Iuri Gagarin em 1961.
Planeta azul, planeta água ... cerca de 71% da superfície é coberta por água em estado líquido. Parece uma quantidade quase infinita, mas 97,5% da água disponível é salgada e apenas 2,5% é água doce sob a forma de rios, lagos, geleiras, neves eternas e reservas subterrâneas. A água doce disponível, assim considerada a que se apresenta em locais de fácil acesso – rios, lagos e na atmosfera resume-se a apenas 0,3%.
O consumo humano responde por apenas 8%, sendo que 70% da água doce disponível no planeta é utilizado pelo setor agrícola, seguido da indústria, com 22%. São dados assustadores, para a produção de um quilo de carne são utilizados 15 mil litros de água. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura - FAO, em 2014 foram produzidas 314 toneladas de carne e, para tanto, foram consumidos 5 bilhões de litros de água. Na agricultura, a produção de um quilo de arroz demanda o uso de 1.500 litros de água. Em 2017 foram produzidas 754 toneladas desse produto. A produção de um quilo de batata exige 150 litros de água e o de tomate, 80 litros.
Crescimento populacional, demanda por mais alimentos, incremento da irrigação, uso de fertilizantes e pesticidas que contaminam as águas subterrâneas dos rios e riachos próximos às áreas de cultivo. Em 2018 apurou-se que 38% das águas da União Europeia estavam contaminadas, um percentual de dano muito superior àquele produzido pela indústria. Já nos países periféricos, a contaminação de recursos hídricos é majoritariamente provocada por águas residuais municipais e industriais devolvidas aos rios e lagos sem qualquer tratamento. A gravidade dessa realidade reside no fato de que cada litro de água residual contamina outros 8 litros, o que torna imperativo seu tratamento e reutilização.
Água e florestas
A água mantém um movimento cíclico com participação do clima, dos ventos, da temperatura, do solo, da vegetação e das chuvas. Os problemas com relação à disponibilidade hídrica no mundo começaram a surgir com a ação humana prejudicando um ou mais dos elos desse ciclo. Associada ao desperdício e/ou mau uso da água, chegamos a uma crise hídrica, cuja superação depende fundamentalmente das florestas.
Essa compreensão leva-nos a perceber que, não por acaso, celebra-se o Dia Mundial das Florestas em 21 de março e o Dia Mundial da Água em 22 de março. Além do fato de que 75% da água advém desses ecossistemas, bacias hidrográficas florestadas melhoram a qualidade e protegem esse recurso tão importante para a vida e saúde no planeta.
As florestas desempenham papel essencial na regulação e (re)circulação de água doce no planeta, ao repartir sua quantidade no solo e na atmosfera e beneficiar sua qualidade. Sua destruição, em decorrência de mudanças climáticas, ou para abrir espaço para atividades agropecuárias, ameaça a biodiversidade do planeta, considerando-se que ¾ encontra-se nas florestas.
Em 26/04/2021 a ONU lançou o “Global Forests Goals Report 2021”, relatório que apresenta dados sobre 75% das florestas do mundo e o secretário-geral da organização, António Guterres destacou a importância das florestas especialmente durante a pandemia, período em que milhões de pessoas dela dependem para obter alimentos, abrigo, energia, medicamentos e rendimentos. Esse fato não se restringe ao período pandêmico, pois delas vem 20% da renda familiar nas áreas rurais dos países periféricos. Acrescente-se que alguns produtos florestais garantem o sustento para uma de cada cinco pessoas no mundo, principalmente entre os mais vulneráveis socialmente. Das maiores cidades do mundo, 33% dependem das florestas para seu abastecimento de água.
Produção de alimentos x gestão da água
Cresce a cada dia a preocupação do mercado internacional quanto aos impactos ambientais causados pela cadeia produtiva dos produtos, o que pode ser considerado forte estímulo para que os setores agrícola e de pecuária revejam seus métodos. A competitividade de seus produtos e serviços depende da compreensão dos reflexos de suas ações sobre o meio ambiente e a gestão da água deve fazer parte do cotidiano dos produtores rurais e pecuaristas, a começar pelo controle do consumo para tê-la em quantidade e qualidade necessárias. O uso de agrotóxicos pela agricultura coloca em risco as águas subterrâneas e de rios, o que determina a necessidade de monitoramento, sem falar na necessidade de rever a filosofia que orienta a produção, com modernização dos métodos e seu direcionamento para a sustentabilidade. Sem esquecer que a agricultura depende das chuvas e estas dependem das florestas.
Água não é mercadoria; é direito humano
Necessário conhecermos a relação intrínseca entre água e florestas, mas é fundamental analisarmos o acesso à água como direito humano. Esse reconhecimento ocorreu em 2010, quando a Organização das Nações Unidas – ONU estabeleceu o direito à água e ao saneamento como direito humano. Medida essencial quando se verifica que, em 2015, 663 milhões de seres humanos não tinham acesso a água potável - cerca de 9% da população mundial naquele ano, enquanto 2,1 bilhão - 28,8% não contava com água dentro de casa, tendo que se deslocar para obtê-la.
A Declaração Universal dos Direitos da Água, aprovada pela Assembleia Geral da ONU em 1992 declara que “a água não deve ser desperdiçada, nem poluída, nem envenenada”. Devemos acrescentar nem transformada em mercadoria. A maioria das pessoas já ouviu a afirmação de que a água é o “novo petróleo”, feita por pessoas que a veem como uma possibilidade de ganho financeiro. O petróleo pode ser substituído por outras fontes de energia, enquanto inexiste substituto para a água. Crescimento populacional, escassez de água e mudanças climáticas fazem parte de uma conta que não fecha, a não ser que os países revejam a gestão da água e, para começar, é fundamental fixar que se trata de um bem público e não pode ser mercantilizada.
Material utilizado
A inseparável relação entre florestas e água na Amazônia - Portal Embrapa
ONU pede medidas urgentes para alcançar metas das florestas em 2030
Água na agricultura e produção de alimento - Portal Embrapa

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